sábado, 18 de novembro de 2017

Épocas de plantio da Canola

O ambiente de cultivo da canola

A definição de locais e épocas de semeadura para canola no Brasil foi resultante de dois critérios: necessidades da espécie e disponibilidade de recursos do ambiente. Com base nesse confronto de informações, foram quantificados os riscos climáticos associados à cultura, posicionando-a nos locais com aptidão e em épocas de semeadura mais favoráveis para o cultivo dessa oleaginosa. Ou seja, com essa estratégia, buscou-se a minimização dos riscos de perdas no rendimento de grãos em canola em função de adversidades meteorológicas e/ou ambientais.
A canola é uma espécie de clima temperado/frio que se desenvolve melhor em locais com temperaturas do ar amenas, entre 13,0 e 22,0 ºC, no período vegetativo, e, ao redor de 20,0 ºC, considerando-se todo o ciclo. A temperatura base, abaixo da qual, teoricamente, o crescimento é mínimo ou não ocorre, é de 5,0 ºC.
A geada é o fenômeno meteorológico mais prejudicial à canola no estádio de plântula, podendo também causar prejuízos se ocorrer durante o florescimento, com comprometimento parcial ou total da produção da lavoura. No estádio de plântula, os danos acontecem quando a temperatura do ar, no abrigo meteorológico, atinge 0,0 ºC, que pode corresponder a uma temperatura de -3,0 ºC a -4,0 ºC, na superfície do solo. O dano é mais severo, com morte de plantas, quando a geada ocorre sem um período de frio(pelo menos três dias) anterior a mesma, que é chamado de aclimatação. A aclimatação torna as plantas de canola mais tolerantes à geada, reduzindo ou até evitando os danos, dependendo da intensidade da geada.
Evitar a geada na floração é outra estratégia importante, que deve ser levada em conta na definição da época de semeadura e na escolha de áreas preferenciais para cultivo da canola, tanto em escala de propriedade rural como regionalmente. Na floração da canola, a geada causa abortamento de flores e de síliquas em inicio de desenvolvimento. Sendo que os prejuízos são maiores quando a geada ocorre no fim da floração e no inicio de enchimento dos grãos, pois é menor a chance das plantas emitirem novas hastes laterais com vistas à compensação da perda causada. No entanto, a emissão de novas hastes para compensar perdas tem como consequência maior desuniformidade na maturação das síliquas na colheita, aumentando as chances de perdas diretas no campo, pelas síliquas que maturaram primeiro, e perdas indiretas na qualidade dos grãos colhidos, devido a mistura de grãos maduros e verdes.
Para reduzir danos causados por geada em qualquer estádio do ciclo da cultura, deve-se evitar a semeadura de canola em locais propensos ao acúmulo de massas de ar frio, como áreas de baixada, áreas com fluxo preferencial de ar frio e/ou com estruturas que represem o escoamento de ar, bem como na proximidade de matas fechadas. Deve-se priorizar áreas que permitam o escoamento natural do ar frio (não acumulam ar frio) e aquelas com exposição Norte (maior incidência de radiação solar).
Durante a floração da canola, a temperatura do ar acima de 27,0 ºC pode causar abortamento de flores e síliquas em início de formação. Por isso é conveniente que se evite semeaduras em épocas tardias e locais que com temperatura do ar elevada nesse período do ciclo da cultura.
Com relação à necessidade hídrica, as melhores áreas e épocas preferenciais de semeadura da canola são aquelas com disponibilidade de água entre 312 mm a 500 mm, durante o ciclo. Locais e épocas de semeadura sujeitos a déficit hídrico durante o florescimento devem ser evitados, em função de perdas severas de rendimento de grãos e no conteúdo percentual de óleo nos grãos. Especialmente, se o déficit hídrico ocorrer em conjunto com temperatura do ar elevada (acima de 27,0 ºC). Por outro lado, o excesso hídrico diminui o rendimento de grãos pela redução no número de síliquas por planta e no número de grãos por síliqua. Cabe destacar, que excesso hídrico é condição normal durante grande parte do período que se cultiva canola na região Sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul (RS).
No Sul do Brasil, os solos com grande probabilidade de encharcamento durante o ciclo de cultivo da canola, como é o caso de áreas de baixada e de várzeas, devem ser evitados. Nas áreas de acúmulo de umidade (“bacias”), frequentemente encontradas na metade sul do RS, mesmo em áreas de coxilha, as perdas baixam o rendimento médio de grãos das lavouras. A canola não tolera solo encharcado, como é comum acontecer no Sul do País, durante a estação de crescimento da safra de inverno, por períodos prolongados. Portanto, a semeadura desse tipo de área deve ser evitada.
Outros fatores adversos à cultura da canola, como precipitações pluviais intensas e ventos fortes quando as síliquas estão fisiologicamente maduras, também podem causar redução do rendimento de grãos, devido a debulha das síliquas, que, em geral, possuem elevada deiscência natural. Para reduzir esse tipo de prejuízo, existem estratégias de manejo, como a antecipação de colheita direta, aplicação de substâncias que diminuem a deiscência das síliquas ou a tecnologia do corte-enleiramento, que visam à minimização de perdas na colheita.

Locais e épocas indicadas para semeadura da canola

A escolha de locais e épocas para semeadura da canola, como estratégia de manejo de cultivo, deve seguir os indicativos do Zoneamento Agrícola de Risco Climático, cujas portarias são anualmente publicadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Adicionalmente, outros pontos podem ser considerados para definir os melhores locais e épocas para semear canola, especialmente no Rio Grande do Sul, que é o principal estado produtor e conta com avanços significativos em pesquisa com essa cultura. Não há impedimento que esses e outros pontos sejam analisados por profissionais responsáveis pela prestação de assistência técnica aos agricultores, com o objetivo de subsidiar a tomada de decisão.
Há redução da área indicada para cultivo de canola no Rio Grande do Sul, a partir de 15 de abril até 25 de junho, independente do ciclo do genótipo utilizado. A limitação de área é maior para os genótipos de ciclo mais longo, comparado aos de ciclo precoce. A canola apresenta maior potencial de rendimento de grãos quando semeada no início da época indicada, ocorrendo redução de rendimento de grãos com o atraso da semeadura a partir de meados de abril (TOMM et al., 2004).
Para as regiões de maior altitude, especialmente aquelas do extremo nordeste do Rio Grande do Sul, caso dos Campos de Cima da Serra, a semeadura da canola é limitada pelo aumento progressivo do risco de geada. Em outras regiões, como no extremo oeste do estado, a limitação de cultivo, a partir do segundo ou terceiro decêndios de maio é pela ocorrência de deficiência hídrica e de temperaturas do ar elevadas na floração, principalmente a partir de agosto. Nesse caso, a limitação é maior para os solos com baixa retenção de água do que para os solos mais profundos, uma vez que a interação entre déficit hídrico e temperatura do ar elevada pode amplificar o dano causado.
Considerando-se o Rio Grande do Sul como referência, observa-se que as regiões leste e sudeste possuem os períodos de indicação de cultivo mais longo, devido a temperatura do ar ser mais amena do que nas outras regiões, que ameniza o déficit hídrico, além de serem, regiões com precipitação pluvial elevadas. Entretanto, parte dessa área, principalmente na região Serrana, apresenta solos pouco profundos, podendo dificultar o cultivo de canola, uma vez que a espécie se desenvolve melhor em solos sem limitações de profundidade.
De acordo com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para o Rio Grande do Sul, os híbridos de ciclo precoce apresentam períodos mais longos para a semeadura, enquanto que híbridos de ciclo tardio têm os períodos mais curtos. Por isto, aqueles de ciclos mais longos devem ser semeados primeiro, seguidos pelos híbridos de ciclo mais precoce, pois os tardios apresentam desenvolvimento mais lento do que os precoces, facilitando a emissão de novas flores caso atingidos por geada na floração. Como os híbridos de ciclo precoce apresentam menor tempo de duração da floração, em caso de geada nesse período do ciclo, a semeadura tardia faz com que a floração ocorra em época com menor risco de ocorrência de frio intenso e abortamento de flores.
Para os demais estados do País em que a canola pode ser cultivada, segundo o Zoneamento Agrícola de Risco Climático do MAPA, particularmente naqueles que a temperatura baixa do ar não é problema (não há ocorrência de geadas), a deficiência hídrica no solo e a temperatura do ar elevada são os principais problemas de natureza ambiental/meteorológica para a cultura da canola. No entanto, a dimensão de impactos destes fatores, especialmente em regiões de clima tipicamente subtropical e tropical, ainda carece de estudos adicionais.

Período indicado para semeadura de canola por município

Atualmente, seis estados brasileiros possuem Zoneamento Agrícola de Risco Climático, em escala municipal, para a cultura da canola (Tabela 1), definidos em portarias publicadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2012a, 2012b, 2012c, 2012d, 2012e, 2012f). Os períodos de semeadura apresentados na Tabela 1 devem ser interpretados como meras indicações dos períodos de semeadura da canola nesses estados, uma vez que não estão especificados os ciclos de híbridos/cultivar e os tipo de solo. Há necessidade que, em cada local, esses dois fatores sejam considerados, conforme as indicações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático para o cultivo de canola em cada município, disponível online: http://sistemasweb.agricultura.gov.br/arquivosislegis/anexos/arquivos/DO1_2012_12_13%281%29.pdf(BRASIL, 2012a, 2012b, 2012c, 2012d, 2012e, 2012f).
De maneira geral, os meses de abril e maio são indicados, pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático do MAPA, como propícios para semeadura da canola em praticamente,todos os seis estados que atualmente são contemplados pro esse instrumento de política agrícola do Governo Federal. A exceção é o Estado de Goiás, cuja semeadura é indicada de primeiro de fevereiro a 10 de março (Tabela 1), sendo o estado com menor período de semeadura da canola, em relação aos demais. Por outro lado, Santa Catarina é o estado com o maior período indicado de semeadura da canola, que vai de 21 de março a 30 de setembro. Para os demais estados os períodos de semeadura variam de: 11 de abril a 30 de junho, no Rio Grande do Sul; 01 de março a 31 de maio, no Paraná; 01 de fevereiro a 30 de abril, no Mato Grosso do Sul; e 01 de março a 20 de maio, em São Paulo.

Considerações gerais sobre época de semeadura para canola

Verificar as previsões meteorológicas, pois geadas durante ou logo após a emergência podem matar ou debilitar as plântulas, especialmente em áreas com muita palha. Portanto, sugere-se que seja evitada a semeadura se existe probabilidade de ocorrência de geada nos dias que seguirão a emergência da canola.
A canola apresenta maior potencial de rendimento de grãos quando semeada em meados de abril, nas áreas relativamente quentes do noroeste do RS, como em Três de Maio (Latitude 27o47`02", Longitude 54o14`55", Altitude 333 m). O potencial de rendimento diminui a cada dia de atraso na semeadura após esta data (TOMM et al., 2004). Hyola 60, híbrido de ciclo longo, sofre maior perda de rendimento a cada dia de atraso na semeadura que híbridos de ciclos intermediário ou curto, como Hyola 401. Destes híbridos, o último é o menos afetado pelo comprimento de dia. Isto é, a época de semeadura tem menos influência sobre o rendimento do que nos demais híbridos.
Na maioria dos locais avaliados, a extensão do ciclo dos híbridos foi decrescente, na seguinte ordem: Hyola 60 > Hyola 432 > Hyola 61 > Hyola 43 > Hyola 420 > Hyola 401. Portanto, esta deve ser a ordem de semeadura preferencial. Ao estarem avançados os dias dentro da época indicada, é preferível empregar híbridos de ciclo mais curto, pois estes sofrem menos redução de rendimento em função do atraso na época de semeadura.
Para o extremo norte do RS, região de Vacaria, altitude acima de 800 m, e outras áreas com períodos de geada mais longos e frio mais intenso, deve se dar preferência ao emprego de híbridos de ciclo e período de floração mais longos, como Hyola 60, os quais apresentam maior capacidade para compensar danos de geada do que híbridos com ciclo mais precoce.
Geada na floração, em geral, tem menor efeito sobre o rendimento de grãos de canola do que sobre outras espécies cultivadas no inverno. Embora geada cause aborto de flores, o longo período de floração, típico da canola, que varia de 20 dias, em híbridos precoces, até mais de 45 dias em híbridos de ciclo longo, permite compensar a perda de flores. Geada tardia pode causar prejuízo se a cultura recém terminou a floração e os grãos estão na fase leitosa.


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